Por um dos caminhos que passei,
naquela tarde solarenga de Primavera, observei uma ave no céu. Uma ave de corpo
esguio e bico aguçado. Uma cegonha. Voava fugazmente pelo céu. Talvez para mais
um ciclo migratório. Talvez para, simplesmente, fazer o reconhecimento do lugar
onde, mais uma vez, iria contruir o seu ninho. Afinal era Primavera. O voo da
cegonha teve em mim um sentido poético, quase que espiritual. Nesse dia, senti que
a minha vida era tão parecida à da cegonha. A construção de um ninho começa com
uma história de amor. Cada pauzinho, cada feno entrelaçado está na origem de
sonhos. Sonhos de voar. E os sonhos nascem do amor.
Também chove na Primavera, mas a cegonha está
lá. E debaixo das suas grandes asas, a cegonha protege, sempre, as suas crias. Ou
quase sempre. Pois como ave migratória que é, um dia vai deixar o seu ninho e
desaparecer no céu a escurecer. Certa, porém, que no novo despertar da
natureza, o seu ninho vai permanecer.
por Vânia Margarida SLB Raposo